terça-feira, 27 de novembro de 2012

Ciúme e Bíblia: considerações teóricas e práticas

O ciúme é um sentimento comum e complexo, que se manifesta em diferentes circunstâncias e níveis entre as pessoas. Lidar com essa emoção ou administrá-la é algo muitas vezes urgente nos contextos sociais, especialmente familiares, uma vez que tal sentimento tem a tendência de destruir relacionamentos. O que se segue abaixo são algumas considerações teológicas e práticas sobre o assunto em questão.

CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS

A palavra grega "zelos", que aparece nos textos bíblicos, muitas vezes é traduzida como "ciúmes". O sentido básico desse termo é de calor, fervor, borbulhar ou encher, que figurativamente pode ser entendido como indignação, rivalidade, oposição a alguém ou algo. Podemos então definir o ciúme como um estado de alma "tempestuoso" que pode levar o cristão a atitudes legítimas que envolvem cuidado e proteção ou a todo tipo de comportamento anti-social, egoísta, desenvolvido ao lado de outras emoções como o medo, insegurança, tristeza, desânimo e ira.

Portanto existem dois sentidos, um positivo (bom) e outro negativo (mau), nos quais a palavra "ciúme" pode ser utilizada. Quando "zelos" é aplicada ao santo Deus, o sentido é unicamente positivo, enquanto que há variação de intenção dos autores bíblicos quando relacionada ao homem. No caso de Gl 5.20, por exemplo, o sentido de "zelos" intencionado pelo apóstolo Paulo é ilegítimo de acordo com o contexto da passagem, onde é listada algumas obras da carne, da vontade humana corrompida pelo pecado. Eis alguns outros textos que atestam esse ensino:

Sentido bom: Rm 10.2; 2Co 7.7,11; 9.2; Fp 3.6; Is 9.7; Ez 16;37-38; 23.25; Sl 69.9; 119.139.
Sentido mau: Jó 5.2; Pv 6.24; Ec 4.4; 9.6; Rm 13.13; 1Co 3.3; 2Co 12.20.

O ciúme no seu mais intenso nível ou grau passa a ser chamado de inveja ("fthonos"; ver Gl 5.21) como pode ser observado em algumas narrativas das Escrituras (leia mais sobre a inveja aqui). Quase sempre o sentido pretendido para inveja é negativo, exceto quando raramente usada para se relacionar a Deus (ver Tg 4.5). O ciúme/inveja foi, por exemplo, o motivador do assassinato de Abel cometido por seu irmão Caim, da fuga de Jacó diante de Esaú, da venda de José como um escravo pelos seus irmãos e da tentativa de homicídio do rei Saul contra Davi (ver especialmente Gn 37.11, At 7.9 e 1Sm 18.9). Tais histórias nos servem de exemplos para não subestimarmos esse "inimigo" que existe dentro de nós, o qual nos compete dominá-lo pela graça, em Cristo, o qual foi vítima da inveja de seus opositores (Mt 27.18 // Mc 15.10).

Nesse sentido, precisamos particularmente nos lembrar que Corinto era uma igreja com muitos problemas relacionados ao ciúme/inveja. Suas divisões e rixas, certamente eram fruto desse sentimento, o qual Paulo solenemente identifica (1Co 3.3; 2Co 12.20) para que os coríntios reconhecessem parte do problema que estava atribulando os irmãos e prejudicando a comunhão e crescimento da igreja. Assim como esses cristãos do passado, cabe a nós hoje ouvirmos a tão maravilhosa exortação do apóstolo do Senhor em espírito de oração e nos examinarmos:

"o amor não arde em ciúmes" (ARA)
"o amor não inveja" (NVI).
1Co 13.4

CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

Abaixo estão enumeradas algumas perguntas que poderão ajudar na identificação e tratamento do ciúme em sua vida cristã. O uso de técnicas de psicoterapia podem ser úteis, desde que sejam usadas sob a orientação da Palavra de Deus (procure um especialista cristão nessa área). No entanto, muitas delas exaltam excessivamente o papel da auto-imagem nos cuidados com o indivíduo, negando ou invalidando a existência do pecado na natureza humana. Como cristãos precisamos entender que sem a santificação (Jo 17.17 // Cl 3.5a) e sem a graça de Deus, jamais seremos restaurados desse mal que habita em nós.

1. Faça uma lista com as atitudes que o seu próximo tem e que despertam em você o ciúme (no sentido positivo, bom).

2. Faça a mesma lista, agora com o ciúme no sentido negativo, mau.

3. Qual sentido prevaleceu?

4. Em quais situações ou circunstâncias você sente ciúme?

5. Qual a frequência desse sentimento em você? Diário, ocasionalmente, raramente?

6. O seu próximo tem contribuído para despertar o ciúme em você? Se sim, o que ele deveria fazer para te ajudar? Que mudanças comportamentais ele deveria fazer? Se não, em que você necessita mudar?

7. Na sua família ou em amizades próximas, alguém tem te estimulado a ter ciúme? Você tem sido influenciado por eles (elas) nesse sentido?

8. O ciúme tem te atrapalhado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente afetadas?

9. O ciúme tem te ajudado em quê? Quais áreas da sua vida tem sido especificamente melhoradas?

10. Com que frequência você tem orado especificamente por isso em sua vida? Você também tem orado em favor do seu próximo nesse sentido?

11. Qual (ais) versículo (s) bíblico (s) você escolheria para memorizar, guardar, para que ele (s) seja (m) útil (eis) contra o ciúme no momento da tentação?

12. Você tem solicitado a ajuda de seus líderes (pastor, presbíteros ou outros irmãos) para lutar contra o ciúme? Se não, porquê?

Obras consultadas:

- As obras da carne e o fruto do Espírito, William Barclay.
- Dicionário de ética Cristã, org. Carl Henry.
- Dicionário de grego e hebraico, Strong.
- Comentários bíblicos sobre Gálatas 5.19-21.

FONTE: UMPC

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