sábado, 18 de agosto de 2012

O que seria comer indigamente a ceia?

A revelação dada a Paulo de como a ceia do Senhor deveria ser celebrada não foi a mesma recebida dos outros apóstolos quando o Senhor ainda estava vivo e sentados com eles à mesa no dia da Páscoa dos judeus. Paulo recebeu "do Senhor" as instruções, as quais ensinou as irmãos de Corinto:

1Co 11:23-26 Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.

O motivo de sua dúvida, porém, é a passagem que vem a seguir. O que seria comer do pão e beber do cálice indignamente?

1Co 11:27-32 Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.

Devemos ter em mente que somos por natureza indignos de receber qualquer favor de Deus. Nossa atitude deve ser a mesma daquele centurião que buscava a cura para seu servo mas não se considerava digno que o Senhor Jesus entrasse em sua casa para curá-lo; ou a de João Batista, que não se considerava digno nem de desatar as correias das sandálias do Senhor; ou ainda a de Paulo, o apóstolo, que não se considerava digno de ser chamado de apóstolo, tal foi o sofrimento que havia causado aos cristãos.


Mat_8:8 E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar.

João_1:27 Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.

1Co_15:9 Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus.

Mas o assunto tratado aqui não é nossa indignidade natural e pessoal. Uma vez lavados pelo sangue de Cristo, Deus nos fez dignos para nos aproximarmos dele com base no valor que o sacrifício de Jesus tem aos olhos de Deus, e não com base em nossa dignidade pessoal. É por isso que diz"examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim [examinado] coma" (vers. 28). Não se trata de o crente fazer um exame prévio para decidir se deve ou não comer e beber (pois se assim fosse ele jamais comeria), mas sim de comer e beber neste espírito de alguém que está examinado. "E assim coma".

Porém esta passagem em especial deve ser vista no contexto da ruína que havia caído sobre a assembleia em Corinto e a falta de cuidado e reverência que cercava a ceia do Senhor. Tratar a ceia com tamanha falta de respeito era ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. Faz lembrar o caso de Uzá, que tentou aparar com sua mão a Arca da Aliança que pendia da carroça e foi morto por Deus. Independente de sua boa intenção ou fidelidade a Deus, aquela não era a maneira de se transportar a Arca e ninguém estava autorizado a tocá-la.

Um paralelo que pode ser feito é o dos símbolos de uma pátria, como a sua bandeira. Existe toda uma exigência de respeito e solenidade no modo como a bandeira deve ser tratada, e qualquer um sabe que quando vemos no noticiário uma bandeira de um país sendo cuspida, pisoteada e queimada por opositores, entendemos bem a gravidade da situação. É como se estivessem cuspindo, pisoteando e queimando o próprio país.

A falta de um juízo próprio na assembleia de Corinto no modo como a ceia do Senhor estava sendo tratada tinha suas consequências: muitos estavam fracos e doentes, e muitos já dormiam, isto é, morreram. Sim, a morte é uma das maneiras como o Pai disciplina seus filhos. Quando um filho seu não anda de forma a servir de testemunho neste mundo, Deus pode simplesmente chamá-lo, interrompendo sua vida aqui. É isto que a Bíblia chama de "pecado para a morte". O crente é salvo mesmo assim, mas sua vida foi perdida. Se estava pronto para ir para o céu graças ao sacrifício de Cristo, não estava preparado para viver na terra como um testemunho para ele. Mais uma vez o ato impensado de Uzá me vem à mente.

Portanto, comer e beber a ceia como se fosse uma simples refeição, uma coisa comum ou sem fazer um juízo próprio, é comer e beber "indignamente". É ser culpado, não apenas de desonrar a Pessoa ali representada, como seu corpo e seu sangue, cujas figuras, pão e vinho, estão sendo tratadas com tamanha indiferença. Devemos ter em mente nossa extrema culpa, que demandava o juízo divino, o qual foi satisfeito pelo valor infinito do sofrimento de Cristo atingido pelo juízo contra o pecado lançado sobre ele, e pela graça que assim nos alcançou. Para o cristão não deveria existir um momento mais importante e solene do que este em que ele recorda, a pedido do Senhor, a causa primeira de sua salvação eterna.

É sempre bom lembrar que na ceia do Senhor não temos a coisa em si, isto é, aquilo não é uma repetição do sacrifício de Cristo e aquele pão e aquele vinho não passaram por um suposto processo de transubstanciação para virarem realmente corpo e sangue de Cristo. Pensar assim seria negar a singularidade do sacrifício que foi feito uma vez para a remissão de pecados e ainda por cima criar objetos de culto, o pão-carne e o vinho-sangue, negando a eficácia da ressurreição de Cristo, cujo corpo agora está glorificado e jamais poderia voltar ao estado de morto em que estava na cruz.

O pão e o vinho são símbolos, mas não meros símbolos, pois representam algo precioso ao coração de qualquer crente. Tenho em casa fotos de meus pais, pelos quais tive sempre grande amor e consideração. Eles não estão mais comigo, mas suas fotos estão. Para qualquer estranho aquilo não passa de um pedaço de papel impregnado de substâncias que perpetuaram as nuances de luz e sombra. Mas para quem é da família, aquilo é muito mais que um papel, pelo significado que traz. Assim são os símbolos, o pão e o vinho, vistos pelos que creem, no momento da celebração da ceia do Senhor.

Também é bom ter em mente que a ceia não é um meio de fortificação da fé, recebimento de bênção ou fonte de cura. Participar da ceia neste espírito é perder de vista que estamos ali não para receber, mas para dar a Deus e ao Senhor Jesus o louvor que é devido por seu sacrifício. Muitos cristãos olham para a ceia apenas como mais uma oportunidade de receberem algo de Deus, como se fosse uma espécie de tônico fortificante ou canal de bênção. O cristão já está abençoado com toda a sorte de bençãos espirituais nos lugares celestiais e não é uma celebração que irá abençoá-lo mais. O Senhor pediu: "Fazei isto em memória de MIM". Ele não disse "Fazei isto em memória de vocês..." ou "para a bênção de vocês...". Participar da ceia pensando "no que vou ganhar com isso" é uma atitude egoísta e mesquinha, e está muito longe da atitude de reverência e dignidade que o Senhor espera.

por Mario Persona

Extraído de O que Respondi...
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