Nascida em uma família rica em Trang Bang, no Vietnã, Kim descreve sua infância como uma pessoa feliz. Infelizmente sua aldeia inocente foi localizada na Rota 1, a estrada de fornecimento entre a Saigon (capital do Vietnã do Norte) e Phnom Penh. Mais tarde quando perguntou por que eles bombardearam Trang Bang, os pilotos responderam que estava no caminho.
Com a napalm corroendo a pele, formando queimaduras de terceiro grau, a menina não tinha esperanças de sobreviver. Ainda assim, 14 meses de internação e 17 cirurgias depois, Kim voltou para casa, “na esperança de ser um garota normal novamente.”
“Napalm é a dor mais terrível que você pode imaginar”, descreve Kim. “A água ferve a 100 graus Celsius. Napalm gera temperaturas de 800 a 1.200 graus Celsius. “
Todavia, as verdadeiras cicatrizes começaram a se formar. Kim retornou aos estudos e seu objetivo futuro era tornar-se médica. No entanto, em 1982, depois de ser aceita para cursar medicina, foi impedida pelo governo vietnamita de iniciar os estudos por ela ser “símbolo nacional de guerra”. Isto forçou-a a deixar a escola e voltar para sua província.
Kim diz que queria se livrar da imagem e esquecer o que tinha acontecido, mas o governo queria que todos lembrassem. “Centenas de entrevistas em todo o mundo se seguiram com a realeza, primeiros-ministros, presidentes, bem como papéis em filmes de propaganda”, diz a vietnamita.
“Por que eu? Por que isso aconteceu comigo?”, questionava ela na ocasião. “Eu estava vivendo com raiva, com rancor, e eu vai minha vida como um fardo. Eu odiava a minha vida. Eu não queria mais viver”, ressalta.
No entanto, a semente da fé foi plantada durante as horas mais sombrias da vida de Kim. Ela afirma que do fundo do seu coração realmente queria encontrar a verdade e o significado de tanto sofrimento, e por que ainda estava viva. A tão esperada resposta veio quando ela tinha 19 anos.Por não estar autorizada a frequentar a escola de medicina, Kim começou a estudar na biblioteca. Lá encontrou uma Bíblia. “Eu não conseguia parar de ler”, diz a vietnamita. Sua curiosidade levou-a à igreja, onde ouviu o evangelho pela primeira vez. Kim diz que o amor de Deus mudou a sua vida. Na igreja ficou sabendo que Jesus morreu na cruz para pagar pelos seus pecados. Elz diz que perguntou a Deus: “Você me perdoa? “
Daquele ponto em diante seu grito não era mais “por que eu?” Mas, “por favor me ajude.”
Apesar de suas terríveis circunstâncias, a jovem “símbolo nacional de guerra” foi capaz de confiar em Deus.
Em 1986, Kim recebeu licença para ir a Cuba onde esteve envolvida em estudos de inglês e espanhol. Foi lá que ela conheceu o estudante vietnamita Bui Huy Toan que mais tarde se tornou seu marido.
A dor de Kim persistiu, desta vez na forma de diabetes. Apesar de seus estudos ser mais uma vez interrompido, ela continuou a confiar e obedecer.
Ainda atormentada pelos dedos governamentais em suas costas, Kim aproveitou uma chance de liberdade, após a lua de mel em Moscou, e de volta a Cuba, quando o avião parou para reabastecer em Gander, Newfoundland, Canadá, o casal desertou e se estabeleceu perto de Toronto, Ontário. Com nada mais do que as roupas do corpo e a fé em seus corações, eles lentamente começaram a criar uma vida própria. Uma vida de liberdade.
Nos anos seguintes Kim evitou o olhar do público. No entanto, em 1996, ela teve a oportunidade de participar da cerimônia do Dia dos Veteranos, em Washington, em honra ao combatentes americanos que lutaram no Vietnã.
Kim ficou diante dos soldados que tinham destruído seu país, e expressou o perdão pelo que eles tinham feito.
Durante sua visita ao Memorial, Kim conheceu e abraçou totalmente um dos pilotos que bombardeou sua aldeia. Ela assegurou ao homem sobre seu perdão, ao que ele respondeu: “Este é o dia mais feliz da minha vida.”
“Nós somos melhores amigos! Isso é uma verdadeira reconciliação”, disse ela sobre este episódio.
Kim é casada, mãe de dois meninos e membro da Igreja Batista Fé no Caminho em Ajax, Ontário, no Canadá.
Há 15 anos Phan Th? Kim Phúc é embaixadora da Boa Vontade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
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